Fazendo uma retrospectiva daquilo que para mim representa a elaboração do meu PRA, cumpre-me dizer o seguinte:
Após duas tentativas para o fazer o dito, mas sem sucesso, encontro, na derradeira oportunidade, uma profissional que pela sua postura, pela sua vastíssima cultura aliada a uma inteligência notável, conseguiu mobilizar a minha pessoa e incentivar-me a terminar o meu PRA.
Para mim, concluir esta etapa, representa, tendo em conta a “dimensão” da minha pessoa, o concretizar de um sonho. Provavelmente, dirão que tenho projectos pouco ambiciosos, cujo pensamento é demasiado pequeno, mas tal no meu entender, não corresponde à verdade…
Para além de valorizar as minhas competências, estou também a aumentar, evidentemente, a minha auto estima e, consequentemente, a minha qualidade de vida.
Registo com agrado o crescendo entusiasmo, da minha parte, durante todo o processo.
Espero ser detentor de mais uma ferramenta para enfrentar novos desafios.
No entanto, apesar de todas as mais valias que representa a realização do PRA para os cidadãos e das dificuldades na sua elaboração, todo o processo suscita-me algumas dúvidas.
Parece-me pertinente fazer aqui uma pequena reflexão!
Em primeiro lugar, todo este processo deu emprego a muitos profissionais que merecem todo o respeito, para além da muita satisfação que proporciona aos muitos adultos já certificados.
Importámos um modelo de avaliação com vista a qualificar uma população, com um baixo grau de instrução.
Tudo isto me parece positivo mas, no meu modesto entendimento, tudo se resume a estatísticas!
Não tenho dúvidas que, mais cedo ou mais tarde, vai servir de “arma de arremesso” numa qualquer campanha eleitoral!
Alguém vai dizer que, conseguimos certificar milhares de portugueses!
De que forma, pergunto eu?
Das inúmeras histórias de vida que os muitos profissionais já leram, quantas e quantas vezes não se terão já eles questionado: “Como posso eu validar competências a este adulto?”
De salientar que, através deste processo, ninguém reprova, mas das duas uma, ou os adultos têm consciência das suas limitações e desistem ou, adultos e profissionais são vencidos pelo cansaço e os formadores acabam por validar as competências sem muita exigência. Todavia, também tenho consciência de que este processo possa ser o mais indicado para o perfil de determinados adultos que aprenderam bastante na escola da vida e daí, com facilidade, consigam retirar as competências que o referencial deste nível escolar exige.
Os próprios centros têm objectivos a cumprir em termos de adultos inscritos e certificados. Portanto, estamos a falar de estatísticas!
Comparativamente ao grau de dificuldade exigido no vulgo ensino, será correcto, poderemos falar de facilitismo?
Certamente que os profissionais tiveram imenso prazer ao ler histórias muito bem contadas, umas com algum sarcasmo, outras irónicas, outras verdadeiras peças de teatro, mas que lhes deu ânimo para ler outras tantas de bradar aos céus.
Ao invés de adoptarmos este procedimento, porque não políticas de verdade na prevenção do abandono escolar, no acompanhamento dos jovens desde muito cedo, com gabinetes na escola com técnicos especializados para acompanhar os alunos. É que não adianta remendarmos as situações. Já diz o velho ditado: “Depois de casa roubada, trancas à porta”.
Questiono-me: Consideram que desta forma vamos ter ensino de qualidade? Vão os adultos singrar?
Se assim for, posso colocar a seguinte questão:
Para quê andar doze anos a estudar, se mais tarde posso fazer tudo em pouco mais de seis meses?
Quanto a mim é urgente (e tal como se diz num português calão “agarrar o toiro pelos cornos”) e investir na educação.
Se queremos que todo este povo com alma lusitana, com espírito descobridor, ocupe, a nível europeu, um dos lugares cimeiros no que toca ao grau de instrução, temos de evoluir.
Não podemos ser uma nação que importa métodos para colmatar os nossos erros, aprender com eles é preciso.
Já agora porque não importamos outras políticas, a nível de sistema de saúde por exemplo, como numa Alemanha ou França, ou mesmo políticas sociais?! Pois… isto agora já não interessa, iria remeter-nos para uma outra temática que daria “pano para mangas” para mais uma reflexão.
Convicto de que vivemos, ainda, num Estado de Direito, estou certo de que as minhas críticas não passem disso mesmo, uma vez que todos, sem excepção, têm direito a fazê-las, desde que apresentem argumentos válidos e, eventualmente, soluções.
Reitero que foi com grande satisfação e regozijo que desempenhei esta tarefa de comentador das mais variadas temáticas abordadas por mim neste PRA.
Só espero que, por tudo isto, o meu certificado não me seja passado a um Domingo numa qualquer instituição.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
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