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Dentro de 50 a cem anos o mexilhão, a amêijoa, as estrelas-do-mar ou os corais podem estar em perigo de vida devido à acidificação dos mares, fenómeno provocado pelo aumento do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e na água.
Uma equipa de cientistas do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, liderada pelo professor Luís Chicharo, está a estudar o impacto da acidificação dos mares na vida de bivalves como o mexilhão, a amêijoa-boa ou o pé-de-burrinho.
O CO2 que anda na atmosfera também se dissolve na água do mar e forma um ácido fraco - o ácido carbónico - que faz baixar o pH da água, ou seja, torna a água "ligeiramente mais ácida", explicou Pedro Range, investigador da Universidade do Algarve.
Os resultados preliminares indicam que ao contactarem com águas mais ácidas do que as do seu habitat actual aqueles organismos marinhos com conchas ficaram mais débeis.
"Encontrámos conchas menos densas nos bivalves cultivados nas condições de acidificação mais extrema e encontrámos alterações ao nível da fisiologia - têm mais dificuldade em se alimentarem, mais dificuldade em sintetizarem tecido e, em geral, têm uma condição mais débil", alertou o investigador, a propósito do Dia Nacional do Mar, que se assinala na segunda-feira.
Experiências em laboratório
Embora a equipa de cientistas não tenha ainda descoberto efeitos directos da acidificação das águas a nível da mortalidade dos bivalves, o investigador Pedro Range sublinhou que os resultados actuais são com base, apenas, em experiências em laboratório, ou seja, em ambiente controlado.
"Estes bivalves não tiveram interacção com outros organismos, não houve predadores, nem outros distúrbios que existem em meio natural", observou o especialista, referindo que as consequências na natureza podem ser "muito mais graves e mais sérias para os organismos".
O projecto Acid Biv insere-se numa rede europeia de financiamento que tem como parceiros Espanha, Tunísia e Itália. O objectivo é investigar as consequências das alterações climáticas na zona do mar Mediterrâneo, onde o cultivo de bivalves tem uma forte importância económica.
O fenómeno da acidificação das águas vai alterar, no futuro, a fisiologia e morfologia dos bivalves, dos crustáceos e de outros organismos marinhos. Assim, prevê-se que dentro de "50 a 100 anos haja reduções de valores do pH da água do mar que variam de quatro a sete décimas de unidade de pH", advertiu o investigador, explicando que a diminuição de uma unidade de pH "corresponde efectivamente um aumento de concentração de iões de hidrogénio em dez vezes".
O projecto Acid Biv vai prolongar-se mais um ano. Os invetsigadores esperam que em finais de 2010 haja já informações mais exactas sobre aquilo que realmente poderá acontecer aos bivalves e moluscos do Mediterrâneo nas próximas décadas.
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